Médico pediatra neonatologista, professor da Unesp, atua em Administração e Gestão Hospitalar desde o início dos anos 90.
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Relato sobre a pandemia: o começo no Brasil e balanço dos dias | gravado em junho de 2021
Imediatamente após o anúncio, nós criamos um Comitê aqui, internamente. Um Comitê de Crise Famesp. Não era só dentro do Hospital Estadual porque ia envolver todas as outras unidades. Para transformar parte desse Hospital em enfermarias e UTI Covid ia ter que transferir algumas atividades deste para outro hospital, como, por exemplo, o Hospital de Base de Bauru. Então, fizemos um grupo que se reunia diariamente. E diariamente a gente revia tudo aquilo que vinha acontecendo e tomava novos rumos, caso fosse necessário. Então, foi um Comitê montado por infectologistas, enfermeiras e dirigentes das unidades (estaduais) de saúde de Bauru. Foi um período de muita apreensão. De mudanças, não só estruturais mas até culturais, e de muita insegurança. Mas, graças a Deus, a gente conseguiu sair desse período de insegurança e, depois de algum tempo, já bastante tempo, quase uns seis meses, passamos a entrar numa rotina já instalada.
Tudo ficou mais caro. Material de consumo em geral ficou mais caro. Os EPIs então subiram mais de 100%. Tem material que subiu 200%, 300% o valor. Tudo ficou mais caro. Então, a gente tá tendo, sim, que renegociar esse orçamento. E num momento também difícil para o Estado porque houve queda na arrecadação. Com o fechamento do comércio, fechamento de indústrias, a arrecadação caiu muito. Então está difícil conseguir conciliar o custo hospitalar com a queda na arrecadação do Estado para fazer frente às despesas reais do Hospital.
Só agora que a gente tem um pouco mais de informações, que pode relaxar um pouquinho com aqueles cuidados excessivos que a gente tinha no início. Apesar de ser criança, eles entendem. Eu saio com ele, quando preciso, e ele põe a máscara sozinho, ele usa a máscara, ele toma cuidado e não fica pondo a mão nas coisas... Ele entendeu o que é o vírus. Talvez não saiba a gravidade da doença. Mas sabe que a doença existe e ele toma as devidas precauções, sim. É muito interessante isso daí.
Talvez a doação física, do material físico, deixe de existir depois da pandemia, mas a solidariedade não vai deixar de existir porque isso ficou dentro da gente. E acho que isso vai continuar existindo.
E a mudança que a gente mais está vivendo é, por sorte, que nós temos meios de comunicação agora à distância. Antes era muito mais físico e a gente percebe que não tem tanta necessidade disso. Hoje a gente faz reuniões a qualquer hora, qualquer momento, qualquer dia. E você faz essas reuniões online, muita conversa online, seja por videoconferência, no whatsApp, pelo Meeting, por algum desses meios de comunicação.
E eu acho que isso veio pra ficar também... Como eu falei da solidariedade que veio pra ficar, eu acho que essa forma de comunicação também veio pra ficar.
Tem um lado que eu critico um pouco nesse meio de comunicação... Porque tirou muito a liberdade da gente. Antes era difícil fazer essas reuniões presenciais, tinha que caber na agenda. Como está muito mais fácil, hoje você perde um pouco da privacidade porque fica difícil falar ‘não posso fazer’... Como não pode? Pega o seu celular, pega seu computador e vamos fazer a reunião. Então você deixa de fazer algumas tarefas... Eu, por exemplo, que fico um pouco na área administrativa, tem muita coisa burocrática que eu tenho que fazer. Tenho que assinar processos, ler processos, responder ao Tribunal de Contas, responder à Secretaria de Saúde... E não necessariamente eu estou nesse momento disponível para fazer reunião. Eu preciso ter tempo para fazer isso. Não é coisa pessoal. É da instituição. E a gente acaba atendendo a uma solicitação de reunião (online) e tendo de fazer esses serviços fora do expediente de trabalho... E às vezes até levando esses serviços pra casa. E em casa a gente tem a família... E está sendo muito mais frequente levar o serviço pra casa.
Eu acho que foi uma união entre todas essas pessoas, seja da área de enfermagem, médicos, da área administrativa, para poder vencer essa dificuldade que a gente vem enfrentando nesse momento. /.../ Foi uma coisa assim extraordinária ver a dedicação das pessoas na hora em que apareceu a doença e tinha de enfrentar essa doença. As pessoas se doaram pra fazer o melhor e poder atender a esses pacientes que adquiriram a doença e estiveram internados conosco.