Preparação do Hospital

Em março de 2020, a equipe do HEB mergulhou num campo de batalha com a missão de transformar a unidade em referência Covid-19 sem deixar de atender outras especialidades em que é referência, como Oncologia, Pediatria, Queimaduras, Cardiologia, Cirurgia Geral e Clínica Médica. O que esses combatentes fizeram foi, literalmente, criar dois hospitais dentro de um único prédio.

Em poucos dias, o HEB passou por reengenharia para ter alas específicas para Covid-19, com ampliações e adequações ao longo de todo o ano, chegando em meados de 2021 com 128 leitos Covid-19 (68 de Enfermaria e 60 de UTI/Suporte Ventilatório).
 
Antes da pandemia, o Hospital trabalhava com 280 leitos de enfermaria destinados às suas áreas de referência e com 50 leitos de UTI, também divididos em especialidades de referência (Coronariana, Queimaduras, Pediátrica, Cirúrgica).  E durante a pandemia atuou com 192 leitos de Enfermaria e 20 de UTI para pacientes não Covid-19, empregando todos os esforços para garantir uma assistência segura, com qualidade e eficácia dentro desse cenário.  É disso que tratamos aqui.

Os processos e fluxos de trabalho num hospital formam um sistema altamente complexo e integrado, fundamental para gerar qualidade na assistência aos pacientes atendidos. São como veias que se entrelaçam em nosso corpo para alcançar todos os pontos. Com foco, planejamento, disposição e muita transpiração o comitê formado por gestores do Hospital Estadual de Bauru para enfrentamento da Covid-19 preparou, de forma rápida, um plano minucioso de reestruturação e reorganização hospitalar, uma vez que foi apontado como referência para tratamento da doença pela Secretaria de Estado da Saúde (SES). Os membros do comitê iniciaram, com o respaldo do Departamento Regional de Saúde (DRS-VI) e de órgãos e autoridades da saúde pública, um árduo, importante e doloroso movimento de preparação do hospital para recepção de um visitante indesejado – que não sinaliza hora para ir embora.

O comitê estabeleceu o plano de enfrentamento com quatro etapas que seriam implantadas gradualmente, conforme o avanço da pandemia nas cidades pertencentes ao DRS-VI. As mudanças abrangiam, sobretudo, a ampliação de leitos de UTI e de enfermaria próprios para atendimento de pacientes com Covid-19, além da criação e atualização de protocolos alinhados com as novas determinações do Ministério da Saúde.
Após transformações complexas de reengenharia e rotina médica, ao terceiro mês de pandemia, um terço da unidade estava voltada para combater a Covid-19. Três dos sete pavimentos do hospital foram adequados para atendimento exclusivo da Covid-19. E por sua alta taxa de transmissibilidade, todos os protocolos sanitários que se referem ao tratamento hospitalar da doença apontam a necessidade de uma separação física de leitos para tratamento de pacientes de outras afecções.

Desde o início do desenho do plano de reestruturação do HEB, as demais unidades de saúde de Bauru sob gestão da Famesp participaram desde o início desse processo. Gestores do Hospital de Base de Bauru (HBB), da Maternidade Santa Isabel (MSI) e do Ambulatório Médico de Especialidades (AME) de Bauru contribuíram com rearranjo de rotinas, absorvendo demandas e serviços que precisariam ser oferecidos em outros equipamentos de saúde, já que o Hospital Estadual de Bauru estaria direcionando grande parte da sua capacidade de leitos, estrutura e corpo de profissionais para atuar na linha de frente de combate ao Coronavírus.
A primeira ala a receber pacientes com Covid-19 no Hospital Estadual de Bauru foi a Unidade Coronariana, localizada no segundo andar. O fato de os leitos de UTI serem fechados com divisórias, possibilitando isolamento, foi decisivo. Para isso, parte do serviço da área de Cardiologia precisou ser remanejada para o Hospital de Base de Bauru por tempo indeterminado.

Em seguida, todo o setor de Queimados, também localizado no segundo andar, com disponibilidade de leitos de Terapia Intensiva e de Enfermaria, passou por desocupação para tratamento especializado a pessoas acometidas pela Covid-19. A estratégia, naquele momento, direcionou 13 leitos de UTI e 31 de enfermaria para combater a doença no HEB.

De acordo com os registros dos boletins de ocupação de leitos de Covid elaborados diariamente, desde o início da pandemia, essa primeira reserva de leitos chegou perto do esgotamento de forma muito rápida e, por isso, a segunda etapa do plano de contingência foi colocada em prática. A UTI Geral de Adultos, no 1º andar,  passou a prestar assistência aos pacientes graves da Covid-19. Com isso, o total de leitos de UTI para tratamento da doença era de 29. A UTI Geral passou a funcionar provisoriamente no Centro Cirúrgico Ambulatorial, que precisou ter adaptação dos leitos. Naquele momento os procedimentos eletivos estavam suspensos temporariamente.

Na continuação da estratégia de transformação do HEB, a UTI Pediátrica, que ficava no primeiro andar, passou a funcionar no Centro de Terapia Intensivo (CTI), no subsolo do hospital.

Essas transformações das UTIs do primeiro andar, tanto da Geral quanto da Pediátrica, demandaram adequações físicas. Os leitos que já possuíam o distanciamento necessário receberam instalações de cortinas de lona e plástico para garantir o isolamento. Nessa etapa, além das equipes próprias, o Hospital contou com reforço essencial dos aliados. Muitos pacientes das UTIs, em estado grave por conta da Covid-19, precisavam de intubação, procedimento com alto risco de geração de aerossóis. Por isso, as medidas de precaução foram redobradas, sempre considerando a presença do vírus no ar daquele ambiente. As barreiras físicas utilizadas foram preconizadas pela Anvisa para isolamento.

Em junho, na terceira etapa do plano de contingência, após vários dias beirando a lotação dos 31 leitos de enfermaria disponíveis para Covid-19, os leitos das enfermarias de Clínica Médica localizados no terceiro andar do prédio também passaram a funcionar para atendimento exclusivo da doença. Toda a ala foi preparada e isolada dos leitos da Pediatria que funcionavam no mesmo andar, porém, no lado oposto do prédio. Nessa etapa, o Hospital passou a contar com 39 leitos de UTI e chegou a dispor de 74 leitos de enfermaria voltados para tratamento de pessoas contaminadas pelo Coronavírus.

Na quarta etapa do plano de contingência, iniciada em julho de 2020, o Hospital Estadual de Bauru conseguiu, por meio de rearranjos internos, converter e estruturar 16 leitos de enfermaria para atendimento de pacientes graves de Covid-19, chegando a 54 leitos de UTI e 58 de enfermaria.

A abertura de 40 leitos de enfermaria no Hospital Campanha Bauru (HC) em 1º de julho de 2020, também sob gestão da Famesp, por meio de convênio com a Secretaria de Estado da Saúde, possibilitou o início das transferências de pacientes de baixa e média complexidade para aquela unidade. Este fato evitou a desmobilização de leitos de enfermaria destinados ao tratamento hospitalar de pacientes de outras especialidades. Sobre o HC, leia mais em Irmão de luta.

No início de 2021, uma nova onda ocasionada por variantes do Coronavírus atingiu os sistemas de saúde de todo o Brasil. Em Bauru, o número de internações e de casos chegaram a níveis alarmantes. Mesmo com o aumento dos leitos de Covid-19 no Hospital Estadual em mais uma oportunidade, chegando a 60 UTIs  e 68 leitos de enfermaria, a demanda era maior. Em parceria com a Prefeitura de Bauru, foram abertos 10 leitos de UTI para tratamento da Covid-19 também no HC, em 15 de abril de 2021.

Outro aspecto de suma importância na transformação do Hospital Estadual de Bauru para a batalha contra a Covid-19 foi a correta e cuidadosa separação das alas a cada fase de implantação, sobretudo visando à segurança de pacientes e profissionais. As cinco alas da doença no prédio foram separadas do restante do hospital, e os recursos de comunicação visual avisavam quais ambientes estavam isolados e que somente equipes autorizadas poderiam acessar. As alas de Covid-19 passaram por reestruturação e passaram a contar com chuveiros nos banheiros, armários e vestiários próprios nas salas que eram de acompanhantes, tudo para restringir ao máximo as entradas e saídas nesses locais.

Diário do front:

HE: a transformação de um hospital para a guerra contra a Covid-19 | Página 01 | Página 02

Hospital Estadual pode DOBRAR ação e ter 77 leitos UTI para Covid
Convênio entre Prefeitura e Famesp abre 10 leitos de UTI no Hospital das Clínicas em Bauru