Gerência de TI

Alexandre Sanches Bazan

Atua como Gerente de Tecnologia da Informação do HEB desde 2010
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Confira o depoimento

Relato sobre o começo da pandemia | gravado em julho de 2020

A Informática dentro da Famesp atua em todos os níveis desta área. A gente tem uma equipe de suporte que é responsável pela manutenção e instalação dos computadores, ao primeiro apoio para os usuários. A gente tem uma equipe de infraestrutura que é responsável pela manutenção dos servidores, links de internet, acessos externos. E a gente tem também uma equipe de desenvolvimento de sistemas. 90% dos sistemas que nós usamos em todas as unidades da Famesp são desenvolvidos por nós. O prontuário eletrônico, o sistema de agendamento, o controle de almoxarifado, e por aí vai. E essa equipe de TI da Famesp atende hoje às oito unidades que são atualmente administradas pela Fundação.

 

Com a pandemia vieram vários pedidos atípicos, bem diferentes. O que fizemos mais próximo do nosso dia-a-dia foi mexer na estrutura. Nas enfermarias que começaram a ser separadas para recebimento de pacientes com Covid-19, a gente atuou aumentando a quantidade de equipamentos, tanto de computadores como impressoras, pra dar um suporte maior para quem trabalha lá. Ter maior agilidade e produtividade no dia-a-dia da enfermaria. A gente também substituiu alguns computadores mais antigos, por computadores novos, para evitar a quebra e um período de indisponibilidade dos equipamentos. Essas ações foram mais próximas da nossa rotina que é a manutenção do parque de computadores. Mas com isso tivemos que ampliar também o número de pontos de redes, e aí a equipe de infraestrutura atuou com rede sem fio também. E do ponto de vista do desenvolvimento de sistemas, a gente desenvolveu ferramentas que a gente não via necessidade em outro momento, como, por exemplo, a informatização do Boletim Médico, a partir do decreto municipal que impediu acompanhantes e visitantes no hospital, a pedido da diretoria, obviamente, desenvolvemos uma forma que os médicos se comunicassem com os familiares dos pacientes através da internet, possibilitando inclusive que os familiares interagissem com o médico em perguntas e respostas, para saber como estava o quadro do paciente. Outras ações também por conta da não permissão de visitas, a gente fez um apoio para a implantação da visita virtual, que são tablets conectados à internet, que o pessoal do Serviço de Psicologia faz vídeo-chamadas na beira do leito do paciente com o familiar do paciente. Isso foi uma alternativa que acabou surgindo durante a pandemia. Apoiamos também a abertura do Hospital das Clínicas com todo o processo de informatização, de pontos de rede, computadores, relógios de ponto. O Hospital das Clínicas consumiu bastante do nosso setor porque as rotinas, por exemplo, são diferentes, os processos são diferentes, o Laboratório de Análises Clínicas era terceirizado. Então, o fluxo de dados  entre essas entidades pro setor foi diferente, o que exigiu bastante esforço nosso. Temos bastante profissionais que estão trabalhando em home office, por pertencer aos grupos de risco, e não era um padrão da Famesp o home office, permitindo que os profissionais trabalhem de suas casas, conectados aos sistemas do hospital, então isso também foi meio que a toque de caixa. A parte de radiologia, a gente tem um grupo grande agora de médicos que estão fazendo laudos remotamente, usando estruturas dos outros serviços de saúde, o que pra gente também foi bem diferente, pois tinham laudos saindo de madrugada. E a gente tem um plantão 24 horas. O fluxo de demandas pelo suporte de informática aumentou bem. São alguns exemplos das 22 ações que tivemos.


A equipe da TI é grande. Ao todo somos em 26 profissionais, mas é uma equipe muito boa, só que as pessoas oscilam né, todo mundo tem os seus receios, mas uma ou outra, em situações muito pontuais, mas que foi rapidamente tranquilizada. A equipe do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do HEB fez um treinamento no setor da Informática, deu todas as orientações necessárias. E depois não tivemos nenhum problema com relação a entrar nas áreas de enfermaria de Covid-19 para dar suporte em impressora, computador, isso foi bem superado, foi bem pontual essa preocupação.

Pra gente da informática , toda a informatização... informatizar não é colocar um computador em cima de uma mesa. Informatizar é estar envolvido dentro de um fluxo, de um processo. Então todas as vezes que nós somos chamados a apoiar, por exemplo, a informatização do ambulatório, a gente precisa entender o fluxo daquele lugar e saber como a informática será ferramenta, será apoio para aquele fluxo. Então essa questão de a gente entrar em reuniões para entender novos fluxos, novos processos, é relativamente comum pra informática. O diferencial deste, é lógico, é que era um fluxo que estava sendo construído em conjunto, já que ninguém do grupo, da gestão da Covid, tinha passado por isso antes. Mas o fato de a gente ser chamado para apoiar um novo processo não chega a gerar ansiedade, temor, porque isso faz parte da profissão do analista de sistemas né, analisar processos e ver como a informática pode ser uma ferramenta de apoio pra isso né.


Com relação à questão familiar a gente oscila muito, né. Muitas fases. Já estamos com muitos meses de pandemia. Eu tenho duas filhas, uma de 12 e outra de 8, que inicialmente, por eu trabalhar aqui dentro do hospital estadual, minha esposa também é fisioterapeuta dentro de UTI, não do Estadual, mas também frequenta UTI, a nossa primeira escolha foi deixar nossas filhas com os meus pais, e elas ficaram morando lá por pouco mais de um mês. Então, estranha né, você chegar em casa e não estar lá, por mais que você faça uma vídeo-chamada, com o apoio da tecnologia também, mas é muito diferente. E também você pensar como é que elas estavam enxergando tudo isso, né. Só que aí chegou um momento que a gente achou que não dava mais, já estava se prolongando muito mais do que a gente achou que seria. A gente entendeu a quarentena, mas que a quarentena seriam de 40 dias. E aí, em determinado momento a gente achou que estava gerando mais risco do que proteção. Mais riscos pros meus pais, porque a gente ia buscar elas nos finais de semana, então estava frequentando quase que semanalmente lá. Não nos primeiros 15 dias que elas ficaram direto lá. Mas estava mais arriscado ficar lá. Como minha filha mais velha já tem 12 anos, e elas são crianças tranquilas, a gente optou por deixá-las em casa. Minha esposa trabalha até uma hora da tarde e elas já estão em casa e acabam ficando só o período da manhã. E o processo de ensino também está sendo bem complicado, essas aulas online, e estar sempre participando, principalmente a filha de 8 anos de idade, que tem um pouco mais de dificuldade. Mas de ansiedades em nível familiar assim era mais nesse sentido da ausência das filhas, e a preocupação de a gente acabar contaminando nossos pais, que já são de idade.

Com relação aos sentimentos do trabalho em si, acho que o que acabou pesando um pouco mais é que os nossos funcionários são muitos, só no Hospital Estadual são 1.700 funcionários, e muitos a gente percebeu, acaba tendo uma instabilidade, e a gente começou a ser acionado por coisas triviais. Tivemos chamados de plantão de manhã, num sábado de manhã, e o técnico de informática chegou aqui para apertar o botão de liga do computador, de tanto que as pessoas apresentaram uma certa instabilidade. Então, a carga de apoio da TI aumentou bem. E isso, falando do Alexandre, me consumiu muito e ainda consome porque a gente não tem estrutura para atender tantos chamados simultâneos, tantas solicitações simultâneas, e aí pelo nível de ansiedade das pessoas o pedido de apoio da TI aumentou muito, o que gera uma frustração nossa por não conseguir fazer o apoio nesse nível, nesse volume de apoio, né, e isso é bem angustiante, não conseguir atender.

 
Por enquanto eu ainda me sinto no meio da pandemia. Não enxergo um fim muito próximo. Eu já tive a esperança de que estava acabando, aí quando começa a relaxar os números aqui estão exorbitantes. Agora estamos com o hospital cheio de novo, e é pesado. Eu nunca me senti tão ansioso por não conseguir atender e gera mais ansiedade por não enxergar como poderei atender todas as solicitações. Hoje não consigo enxergar, não sei responder o que ela me trouxe. Porque hoje o que ela trouxe é ansiedade. Então não sei como a ansiedade pode ser revertida em algo positivo ou produtivo. Não consigo enxergar agora. De repente porque ainda me sinto no olho do furacão, né. Depois que a gente faz a gente acaba tendo uma visão diferente, mas no momento não vejo algo que tenha somado como positivo.

As coisas mais simples, mais triviais, de levar as meninas numa pracinha; sair pra comer um lanche, que isso acaba ajudando muito; as convivências sociais, gosto de casa cheia, gosto de churrasco, de pessoas por perto e isso praticamente acabou... E isso foi bastante impeditivo, o desligar da rotina de trabalho a pandemia está me impedindo de fazer.

Ele faz falta das pessoas que estão distantes, né. É que em casa tenho três mulheres e nos abraçamos constantemente, então, em casa está tudo bem. O que mais faz falta é a ausência dos queridos.

Ah, isso já está marcado. No primeiro dia vai ter um festão em casa (risos).