Gerência de Recursos Humanos

Rozeli Tamelini 

Graduação em Administração e Gestão de Recursos Humanos; com MBA em Gestão Estratégica de Pessoas pela Fundação Getúlio Vargas e pós-graduação em Administração Hospitalar e Auditoria, é diretora de Recursos Humanos na Famesp, onde atua desde 2004.
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Confira o depoimento

Relato sobre o começo da pandemia | julho de 2021

Mudou muita coisa e continua mudando. A mudança é muito rápida. De manhã é um momento, à tarde já é um outro momento. Só que em época de crise a gente acaba crescendo também. Então apesar de toda essas mudanças,  de todo esse medo, de incertezas, a gente também está crescendo neste momento de crise. A gente conseguiu evoluir algumas coisas que antes só pensávamos em colocar em prática, e hoje a gente colocou em prática, como o teletrabalho. Temos jornadas de trabalho flexíveis, a gente fez toda uma agenda nova lá no ambulatório, para atendimento dos funcionários. E a gente capacitou os funcionários de RH, independente se ele faz ponto, folha de pagamento, acolheu o trabalhador. Porque nesse momento acho que o mais importante é o acolhimento que é dado para o trabalhador. E ele precisa lidar com as incertezas, estava ansioso, então ele precisa chegar no Recursos Humanos e ter essa acolhida, porque muitas vezes é só isso que ele precisa, é o acolhimento, falando que isso vai passar e que é um momento apenas que estamos vivendo, então tivemos muitas mudanças, mas também ganhamos muito em termos de crescimento profissional com essas mudanças, com essa crise.

Em todos os trabalhos que o RH desenvolve, seja no desenvolvimento de pessoas, na folha de pagamentos, se é ponto, é ter essa acolhida de todos os profissionais. É olhar para o trabalhador não como um número, mas como uma pessoa que tem seu anseios, que tem sua família lá fora, e que precisa dessa acolhida do RH enquanto profissional. Então, é esse olhar diferenciado para cada trabalhador, tratando ele como único, que faz a diferença, e vai mudar a visão que as pessoas têm do Recursos Humanos, que não é só contratar e demitir.
No início, gerou ainda mais medo as incertezas dos profissionais. No início, como todos nós somos profissionais da área da saúde, a gente não tinha muito como dispensar eles do trabalho, então muitos vieram com essa demanda. Olha, eu sou grupo de risco, eu preciso ser dispensado, eu to com medo, então nesse momento, foi o momento de conversar, de falar assim calma, tenha um pouquinho de paciência, vamos ver o que vai acontecer daqui pra frente, você vai ficar num setor que não vai atender Covid-19 por enquanto, então assim, tenta ter um pouquinho de calma, um dia de cada vez, amanhã vai ser diferente, então a gente tentou ir conversando com eles, encaminhamos para o médico do trabalho, o médico passava as orientações também, aí tirava do setor e colocava em outro, concedemos férias, tudo para tentar equilibrar isso e não perder bons profissionais. Porque no início, realmente, com a incerteza da Covid, gerou muito pânico, muito medo, muita incerteza, e muita ansiedade mesmo dos profissionais. Então eles achavam que deveriam ir embora do hospital, pedir demissão, pra daí eles conseguirem efetivamente estarem protegidos, mas depois, com o passar do tempo, eles viram que não era assim. Que aqui dentro do hospital, com a gente cuidando deles, eles se cuidando, com todas as medidas preventivas, usando os EPIs, eles também vão estar protegidos aqui dentro. Só que a surpresa da gente foi muitos profissionais que ficaram bem, muitos profissionais querendo trabalhar diretamente na área de Covid. Então a gente teve os dois extremos, teve aquele profissional que ficou com medo, que queria ir embora, e a gente tinha que conversar pra ele continuar, e teve aqueles profissionais que falaram  “eu quero estar na linha de frente”. “Assim que abrir o setor Covid eu quero estar lá”. E as vezes ia lá e via o olhinho brilhando, porque estava lá fazendo o que ele queria. Então eram esses dois extremos. E no final a gente acaba aprendendo com os dois extremos.
A liderança, chefia, é testada 24 horas. Eu tento dar o meu melhor. É difícil desligar do hospital, mesmo quando eu estava fora, na minha casa, ficava 24 horas pensando no hospital. Pensando no que eu poderia fazer de diferente ou fazer melhor, no que estava acontecendo, então a família ficou um pouco de lado, porque eu estava vivendo todas as questões do hospital, da Covid, e com o tempo isso foi me fazendo mal também, porque eu já não tinha aquele apoio que era da família, e as pessoas de casa, os familiares, eles acabam se afastando um pouco da gente, porque a gente trabalha na área hospitalar e eles também têm medo de a gente levar a doença, eu tinha medo de passar a doença pra eles, então a gente acaba ficando um pouco distante da família, isso vai gerando um sofrimento pra gente também, pra mim gerou muito sofrimento, porque a família é muito importante pra mim, é a base de tudo é a família. Então gerou muito sofrimento esse momento. Mas você tem que se manter firme, porque tem pessoas que precisam de você, aqui e em casa também. Mas assim, a minha filha entendeu muito bem isso, meu marido também. Eu também fiquei ansiosa. Eu consegui ao longo do tempo ir lidando melhor com isso. Procurando um livro pra ler, já que não podia ter um outro lazer, antes era a mais a convivência com a família. Procurei outros escapes que era ver um vídeo na internet, ler um livro, pra tentar desligar um pouquinho daquele momento.
Falta muito o abraço. É muito difícil a gente ficar sem o abraço, principalmente sem o abraço da família nos momentos que a gente precisa. Faltou muito o abraço. Eu quero abraçar muito a minha família quando tudo isso passar. É esse sentimento que realmente importa na vida da gente. Que é a família, as pessoas que a gente ama, eu acho que a Covid veio trazer muita reflexão pra gente também. O que é importante na nossa vida? E aí você não conseguir dar um abraço num irmão que você ama tanto. Quantas vezes eu valorizei antes esse abraço? Isso faz a gente repensar o que realmente é importante. E mesmo as pequenas coisas. Hoje você não consegue ir ao mercado na correria que você ia antes. Então fez você fazer as coisas com mais calma, pensando mais no que você está fazendo, antes de fazer, e não ficar tudo no automático como era antes a nossa vida. Esse é o lado bom realmente. Depois que tudo isso passar eu acho que vamos aprender muito com tudo isso que aconteceu, pra gente realmente ter uma outra vida daqui pra frente.