Por Elaine de Souza e Ronaldo Diegoli - Assessoria de Comunicação e Imprensa | Famesp
"Mas é a doutora Deborah mesmo?". Essa foi a pergunta feita por um dos pacientes do Hospital Estadual de Bauru que recebeu ligação da médica pneumologista Deborah Maciel Cavalcanti Rosa, também diretora executiva da instituição.
"Ele perguntou: 'é você mesmo? E eu disse: 'Sou eu sim, ué, você não está me reconhecendo?'. 'Nossa, mas você está ligando aqui pra mim?', disse, e respondi: 'claro, a gente precisa saber se está tudo bem, né?".
Fausto Augusto de Oliveira, 85, que faz acompanhamento na especialidade de pneumologia desde 2005, é um dos mais de 10 mil pacientes que receberam ao menos uma ligação do seu médico do Hospital Estadual de Bauru (HEB) desde abril desse ano. Após sua última consulta presencial em 07/02 deste ano, havia outro agendamento em 19/06, mas ele não compareceu e sua médica, Deborah Rosa, realizou então o atendimento por teleconsulta.
Em março, diante da necessidade de evitar aglomerações por conta do anúncio da pandemia do novo coronavírus e do medo e insegurança de pacientes, que começaram automaticamente a faltar nas consultas médicas, a direção do Hospital decidiu implantar uma rotina de ligações telefônicas dos especialistas para seus pacientes que tinham retorno marcado ou que haviam faltado no ambulatório. Nesse período ainda não havia uma regulamentação do governo estadual a respeito de teleconsultas.
A partir de abril, quando o governo federal sancionou a lei da telemedicina durante a pandemia (Publicação CRM), autorizando os hospitais a incluir teleconsultas na rotina, o formato das ligações feitas pelos médicos do HEB passou a ser de consulta e não mais orientação. E qual é a diferença dos atendimentos?
"Até então, nas orientações, nós falávamos de medidas de prevenção, mas não prescrevíamos medicações. A partir do momento que você faz consulta, então você ouve queixas, pode adotar condutas e até fazer receitas para que outras pessoas possam retirar no hospital em momento oportuno", explica Deborah. Esse formato foi consolidado no HEB em maio.
Para o ortopedista Carlos Eduardo Moraes Matos, ortopedista do HEB, num primeiro momento, o teleatendimento trouxe apreensão por ser uma legislação muito nova. "Assustou um pouco por ser algo novo, ainda não estávamos preparados". Ele explica que muitos pacientes estavam receosos de virem ao hospital, mas receberam a ligação do seu médico com grande surpresa. "A sensação é de que eles se sentiam abraçados, acolhidos, que eles não se sentiram abandonados no meio desse caos que estamos vivendo", conta.
Desde então, até o dia 10 de setembro, o Hospital já realizou 11.415 teleatendimentos. Além das especialidades médicas, o atendimento envolve ainda teleconsultas não-médicas em áreas como Enfermagem, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Nutrição, Odontologia hospitalar, Psicologia, Serviço Social e Terapia Ocupacional.
Teleconsultas no AME
Entre março e agosto, no período mais crítico da pandemia, o Ambulatório Médico de Especialidades (AME) de Bauru também aderiu à chamada telemedicina. Nas 19 especialidades médicas oferecidas pela unidade foram oferecidas, ao todo, nesse período, 6.920 teleconsultas, nas seguintes especialidades: eCardiologia, Cirurgia Geral, Cirurgia pediátrica, Cirurgia plástica, Cirurgia vascular, Dermatologia, Endocrinologia, Gastroclínica, Nefrologia, Neurologia, Neurologia pediátrica, Oftalmologia, Ortopedia, Otorrinolaringologia, Pneumologia, Pneumologia pediátrica, Proctologia, Reumatologia e Urologia.
Vínculos renovados e redução de faltas
[foto: Quioshi Goto/ Livro Olhares]
Para a médica Deborah Maciel Cavalcanti Rosa, as ligações telefônicas resgatam um pouco do papel do médico de família porque restabelecem vínculos de atenção e cuidado, abrindo uma possibilidade para que, num momento de medos e inseguranças, eles possam conversar com o médico que os acompanha.
"É diferente quando o profissional liga pra você, pega você na sua casa. Normalmente, o paciente vem ao Hospital para buscar atenção, mas se a atenção é dada a ele sem pedir há uma outra forma de entendimento", reflete.
Além da manutenção do vínculo médico/paciente, as teleconsultas fazem busca ativa e conseguem oferecer assistência até mesmo para aqueles pacientes faltosos. Em sua especialidade, por exemplo, que é pneumologia, Deborah percebeu que a taxa de falta não interferiu na conduta e no acompanhamento dos pacientes. "Houve um dia em que foram registradas três ou quatro faltas em minhas consultas ambulatoriais, mas aí eu liguei para os pacientes e tive um aproveitamento assistencial de 100%. Eu conversei com eles, vi se estavam bem, se precisavam de renovação de receita ou não", detalha. Em alguns casos, os especialistas concluem que precisam examinar o paciente pessoalmente, aí é agendada a consulta presencial.
Quem pode fazer?
No caso do Hospital Estadual de Bauru, os pacientes que vêm recebendo atendimento por teleconsultas são aqueles que já passaram por uma primeira consulta presencial no próprio hospital e precisam dar continuidade em algum tratamento e realização de exames.
A avaliação médica de cada caso é determinante para a priorização de cada paciente, considerando também pessoas que tenham comorbidades e idosos que são do grupo de risco para a Covid-19, como forma de evitar uma exposição fora de casa.
Quem agenda?
Uma central de agendamento do hospital faz a organização das consultas marcadas em um sistema virtual. Os médicos recebem as listas desses pacientes e, acessando os prontuários digitalmente, identificam os casos em que a consulta poderia ser feita por telemedicina, considerando todos os protocolos do Ministério da Saúde para esse tipo de atendimento, e os que precisam de consulta presencial. O contato é feito diretamente com o paciente em um dos telefones informados no cadastro. Enquanto faz o atendimento, o especialista coleta e registra as informações diretamente no prontuário eletrônico. Durante a teleconsulta, o especialista pode, a qualquer momento, conforme a necessidade, solicitar o agendamento de uma consulta presencial com o paciente.